
Em Pernambuco, motivos para um levante não faltavam. O governador Azeredo Coutinho enfrentava mais uma seca violenta, comum na província, no período entre 1790 e 1806. Além disso, alguns “monopolistas e atravessadores” se aproveitavam da situação, juntavam-se, e levantando grande soma em dinheiro, compravam todo gado possível para forçar o povo a pagar mais caro pela carne.
As Câmaras até certo ponto combateram os monopolistas. Em ofício de 19 de junho de 1799, Azeredo escreve a Rodrigo Coutinho sobre a dura resistência aos atravessadores. Por outro lado, a aquisição de mão-de-obra era alta devido à ação intermediária. Agricultores pernambucanos que precisavam cultivar grandes áreas de produção tiveram que adquirir escravos de quarta mão. As quedas nesse tipo de negócio provocaram tensões.
Em 1801, o governador recebeu a denúncia de uma conspiração no engenho Suassuna. Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, dono do engenho, entusiasta do republicanismo, influenciava seguidores com os ideais das revoluções francesa e americana. Cogitava fundar uma república em Pernambuco.
As motivações eram um tanto diferentes das de Arruda Câmara. Particularmente, Francisco estava insatisfeito com sua condição de “nobre”, parente distante de Duarte Coelho, cujos direitos e regalias foram retirados pela ordem colonial portuguesa. Em abril, os Suassunas receberam duas cartas de outro irmão, Luís Francisco, residente em Lisboa, alertando que a Espanha, aliada dos franceses, avançaria contra Portugal, um aliado dos ingleses.
Os pedreiros livres de Pernambuco lutavam pela fundação de uma república independente. Das associações secretas participavam senhores de engenho, padres, militares e advogados. Francisco de Paula cria na construção de uma nova pátria, voltada aos interesses genuínos dos brasileiros. Talvez por isso tenha deixado de lado a cautela. Ao buscar maiores adesões à causa, mostrou as cartas do irmão ao comerciante e capitão de milícias José da Fonseca Sampaio, que o acusou de crimes de lesa majestade contra a Coroa portuguesa, ao ouvidor Antônio Manoel Galvão. Prevendo a possível perda da província, Galvão agiu rápido para interromper a conspiração dos Suassuna. Por sua vez, João Ozaria, desembargador, confirmou os rumores de uma conspiração, fruto dos ensinamentos dos Arruda de Goiana. Os irmãos Francisco de Paula e José Francisco Cavalcanti de Albuquerque, considerados conspiradores, foram presos, acusados de “conspirar contra Portugal, pela independência do Brasil”. (18)
Em fevereiro de 1802, passados nove meses, os Suassunas continuavam numa das selas do Forte das Cinco Pontas. Mas lutavam para se livrarem da prisão. Conseguiram a liberdade devido a um suborno feito ao escrivão Fonseca, no valor de 400$000 (quatrocentos mil contos de réis), de acordo com os Autos da Devassa. A investigação conduzida pelo juiz Antônio Manoel Galvão foi interrompida. Os Suassuna negaram qualquer acusação. Alegaram estar sofrendo injustiça. Francisco de Paula esteve frente a frente com José Sampaio e conseguiu convencer a justiça de que o delator tramara um falso testemunho com algum inimigo seu.
Nos 84 depoimentos recolhidos nada de comprometedor foi constatado. Para confirmar a decisão do juiz Galvão com relação ao que vinha sendo apurado, o escrivão José Francisco Monteiro aparecera certo dia em sua casa, para lhe comunicar que desaparecera a única prova material contra os Suassuna: uma carta que estava na casa de Luís Francisco. Também na Corte houve manifestações em favor dos Suassuna. Ao final, foram libertados.