
Na quinta-feira, 6 de março, pela manhã, o governador estava reunido com o Conselho Militar. Poderia ordenar a execução dos revolucionários. Ao invés disso, decidiu que mandaria prendê-los e enviá-los à Bahia para julgamento. Deu ordem para prender os comerciantes Domingos José Martins e Antônio Gonçalves da Cruz Cabugá, o padre João Ribeiro, os tenentes Manuel de Souza Teixeira e José Mariano Cavalcanti, os capitães Domingos Teotônio Jorge e José de Barros Lima.
O marechal José Roberto encarregou-se de prender outros civis. Parte desses, incluindo Domingos Martins, foi recolhida à Cadeia Nova, no prédio do atual Arquivo Público Estadual, à rua do Imperador. Outros foram levados ao forte das Cinco Pontas.
No regimento de infantaria, em Olinda, os capitães Jorge Pessoa e Manoel Teixeira, engrossavam as fileiras dos revoltosos. Seriam recolhidos pelo seu comandante, o brigadeiro Moscoso.
Entre os acusados de conspirar pela independência no quartel de Artilharia do Largo do Paraíso, no Recife, estavam os capitães Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima e Pedro da Silva Pedroso. Antônio Rabelo e José Mariano, tenentes, completavam a lista. Responsável por prendê-los, o brigadeiro português Manuel Joaquim Barbosa de Castro assumiu uma postura mais rígida que de costume.
Todos os oficiais (portugueses e brasileiros) estavam armados e divididos em duas filas no pátio do quartel. O brigadeiro começou a repreendê-los severamente. Disse que havia conspiração contra a Coroa portuguesa e que em seu regimento é que estavam os principais agitadores. Dirigindo-se a Teotônio Jorge, deu-lhe voz de prisão e o insultou. Em seguida o brigadeiro português voltou-se para José de Barros Lima, o Leão Coroado. Chamou-o de “canalha”, e sugeriu que o Leão Coroado era frouxo e que certamente se acovardaria naquele instante e muito mais quando estivesse indo em direção à forca. Barros Lima reagiu. Barbosa nem concluiu o discurso. O Leão Coroado enfiou-lhe a espada no abdômen, numa rapidez incomum. Em seguida o tenente-secretário José Mariano de Albuquerque avançou contra o brigadeiro dando-lhe várias estocadas com a espada. Barbosa morreu em seguida.
Pedro da Silva Pedroso estava ao lado de Barros Lima no ocorrido. Não só aprovou o ato do Leão Coroado, como planejou o que fazer em seguida. Barbosa morto era sinal de que estava nas mãos dos pernambucanos a possibilidade de libertar-se do jugo português. Essa era, provavelmente, a convulsão de ideias na cabeça de Pedroso, Barros Lima e os demais.
Pedro Pedroso empunhou a espada do Leão Coroado ainda suja de sangue e, voltado para a tropa, ergueu-a bem alto e saiu pelas ruas dando vivas à liberdade.
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Caetano Pinto encontrava-se na fortaleza do Brum. A primeira medida foi dar ordens para destruir a ponte do Recife, a fim de que os revolucionários não ocupassem o bairro portuário. Pensava organizar uma força e para isso convocou o intendente da marinha e lhe pediu que armasse um corpo de marinheiros dos navios que estavam no porto, mas não teve êxito.
O governador também havia ordenado ao coronel João Ribeiro Lacerda que guarnecesse as guardas com milicianos e que trouxesse o destacamento do seu regimento e quatro peças do Parque de Artilharia com munições. Lacerda entraria na fortaleza entre 10h e 11h da noite com o destacamento e peças de artilharia, mas sem munições.
Enquanto isso, Martins, Teotônio e Pedroso seguiram para ocupar o prédio do Erário, atual palácio do Campo das Princesas. Ali se encontrava o marechal José Roberto Pereira da Silva e sua tropa. Os homens que estavam dentro do prédio ofereceram resistência. Encontravam-se “deitados no chão ou agachados atrás das trincheiras improvisadas com carroças tombadas e móveis velhos” prontos para contra-atacar.¹³ O capitão Manoel D’Azevedo foi escalado para dialogar com Pereira, mas o marechal resistiu. Havia recebido ordens do governador para defender o Erário. Então Azevedo propôs que o marechal fosse junto com o advogado José Luís de Mendonça de barco até o Forte do Brum, conversar com Caetano Pinto. Chegaram ao refúgio e foram recebidos pelo governador. Mendonça, usando sua habilidade jurídica, alertou Caetano sobre as consequências de um confronto: o movimento contava com cerca de mil homens armados que poderiam exterminar facilmente os duzentos do marechal Pereira. Este, a quem foi delegada a decisão, optou por não enfrentar as tropas revolucionárias.
Em seu refúgio, Caetano Pinto recebeu um ultimato, assinado por Domingos Teotônio Jorge, padre João Ribeiro e Domingos Martins, exigindo a rendição. O documento havia sido levado por José Luís de Mendonça. O advogado explicou que o plano dos rebeldes era estabelecer um governo monarquista, porém constitucional. Aceita a proposta, os revolucionários começaram a combinar como enviariam o governador com a família ao Rio de Janeiro para falar a D. João sobre os motivos da revolta.
No dia seguinte, houve cerimônia militar pela manhã. Domingos Teotônio revisou a tropa. Os soldados eram diferentes na cor da pele, na classe social e até no modelo de farda, bonés e chapéus. O armamento era composto por “fuzis, pistolas, bacamartes, lanças, espadas, facões e machados”.
No dia 8 de março, Caetano Pinto foi conduzido à Barra da Baía, no Rio de Janeiro. Ao desembarcar, o governador deportado ficou preso na fortaleza de São José da Ilha das Cobras. Contra ele pesava a acusação da falta de intrepidez e de capacidade para reprimir a crise.